Por Charles Dalberto (via blog Capinando)
O que é a Verdade e por onde ela anda.
O senso comum tem respostas prontas.
Mas quando se trata de determinar a verdade com fundamentos aceitáveis pela ciência e pela filosofia, o trabalho é muito mais árduo.
Uma pedra de Sísifo.
O ceticismo radical pirrônico declara, desde a antiguidade, que nada pode ser conhecido. O que sabemos sobre a realidade são suspeitas frágeis que carecem de sustentação vigorosa e definitiva no intelecto. Por algum tempo se acreditou que Descartes tinha encontrado o ponto de apoio do edifício do saber ao estabelecer o "eu pensante." A razão cartesiana, resultado impregnado de tentativas anteriores por outros pensadores, não resistiu às interrogações.
Este eu que pensa sou mesmo eu ou uma força que atua em mim, está em mim e me faz pensar o que penso? Este pensamento enquanto operação pura é condicionado ou livre? Mesmo que eu acredite ser uma coisa que pensa independente do corpo, o que garante que esta não é apenas uma projeção que posso fazer somente enquanto a coisa que pensa está no corpo? O ato de pensar cessa com a desagregação do corpo?

Crítico da razão, Schopenhauer defende que o que existe é por força da Vontade. Uma força plena e criadora de tudo, que a tudo dirige independente da vontade humana. É um pessimista. Nietzsche vai em direção semelhante. Freud afirma o inconsciente e por aí vamos.
Um dos critérios para estabelecer a verdade de sentenças é testá-las.
Esta possibilidade garante sentido a elas.
Em caso de impossibilidade de teste, as sentenças podem ser coerentes, mas sem sentido porque não há meios de submetê-las à experiência objetiva para verificação ou falseamento.
Por este caminho a filosofia aplica a lógica na linguagem para identificar o verdadeiro e o falso nas ciências, sejam elas quais forem, e na cultura em geral.
Há sentido no "penso, logo existo?" Pode ser testado objetivamente e de modo universal? Existo de que maneira e até quando? Até parar de pensar? Isto pode um dia ocorrer? Deixarei de exisitir neste momento? A Vontade universal pode ser medida, identificada? O eterno retorno é perceptível, demonstrável?
Duras questões.
Hoje há quase 4 milhões de pessoas no Brasil que se dizem espíritas, segundo o IBGE.
Acreditam na existência do espírito, que ele não morre, não para de ser como coisa pensante e conserva sua individualidade consciente, comunica-se com os vivos humanos, experimentam diferentes realidades condicionadas pelo caráter e pelo temperamento do próprio espírito ou seja, são felizes ou tristes conforme o que pensam, sentem e fazem, voltam a viver na Terra como pessoas reais, encarnados, para provar por vias educativas aquilo que os eleva a uma condição maior como seres cósmicos sob uma lei cósmica de amor e harmonia, expressa no âmbito prático pelo Evangelho, e para expiar equívocos contra esta mesma lei, também num processo de reabilitação com propósito pedagógico necessário e justo.
Isto faz sentido do ponto de vista científico?
Pode ser testado objetivamente e universalmente?
Segundo o Espiritismo, os fatos são comprováveis, o que não se duvida. No entanto, não é possível submetê-los às experiências às quais são submetidos metais, por exemplo ou projetos de engenharia ou biologia. A neurociência investe em pesquisas nesta área da mente porque pretende descobrir o que ela é, onde está e como se comporta. A esperança é um dia responder positivamente, o que pode servir ao que diz o kardecismo e outras escolas espiritualistas.
Mas até lá, os critérios para decidir o que é verdadeiro e pode ser considerado conhecimento ou então artigo de fé fundamentado, está na observação dos fatos e relatos e na conclusão por coerência e universalidade dos mesmos.
É o que diz Allan Kardec.
"O erro de todos está em crerem que a fonte do Espiritismo é uma só, e que se baseia na opinião de um só homem: daí a ideia de que poderão arruiná-lo, refutando essa opinião; eles procuram na Terra uma coisa que só achariam no Espaço; essa fonte do Espiritismo não se acha num ponto, mas em toda parte, porque não há lugar em que os Espíritos se não possam se manifestar, em todos os países, nos palácios e nas choupanas."
Declara ainda:
Saberes
"Asseveram os antigos teólogos e adivinhos que, por determinada expiação, a alma está ligada ao corpo e sepultada nele como num túmulo. Por isso não dominamos certas representações e paixões, assim como também certos atos decorrentes daquelas representações e reflexões [...] existem certos pensamentos mais fortes do que nós." FILOLAU de Cróton, século V a.C.(BORNHEIM, Gerd. Os filósofos pré-socráticos. Ed. Cultrix. São Paulo. p. 87.88

Poderia ser o trecho, também, de um livro espírita. Não sugere ainda o incosciente freudiano?
Mas é um fragmento do pensamento do pitagórico Filolau, filósofo anterior a Sócrates que viveu cerca de 500 anos antes da era Cristã.
Está longe de Kardec.
No tempo.
Não no sentido.
Pelo princípio da universalidade e da coerência que mantém abertas as portas da investigação no Espiritismo, a afirmação de Filolau e de inúmeros outros pensadores não deve ser desprezada. Kardec, atento, sabia disso. O que os espíritos teriam dito, dizem ou dirão pode vir ao encontro ou de encontro com o que se afirma em diferentes épocas nas distintas culturas.
É trabalhoso, porém essencial, separar o joio do trigo.
Se no futuro houver lentes apropriadas que permitam à ciência positiva ver o que se disse e se diz nos domínios da religião e de certas áreas da filosofia, sentenças que agora carecem de sentido e de verdade poderão ser confirmadas ou definitvamente descartadas.
Insubordinadas ao laboratório, ao experimento controlado, hoje elas se ligam à fé.
Então, acreditar por quê?
Cada um que responda.
Kardec, deu sua opinião (O que é o Espiritismo, p. 55) ao dizer que se o Espiritismo for falso, morrerá por si mesmo. Mas se for verdadeiro, não há o que possa torná-lo mentira.
A doutrina cresce.
Para outras matérias acesse o blog do jornalista Charles Dalberto (Capinando)


08:13
Unknown


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